quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Opinião: Segundo turno das eleições presidenciais

Nos últimos dias, o Brasil tem vivido um momento político no mínimo interessante. A eleição presidencial, que parecia decidida, sofreu uma reviravolta com a expressiva votação que recebeu Marina Silva, que tem sido apontada por analistas como a responsável pela ida de Dilma Rousseff e José Serra para o segundo turno. A quantidade de votos recebida por Marina, e também por outros candidatos que, apesar de menos votados, conseguiram aparecer e pautar temas relevantes para a sociedade, como Plínio de Arruda Sampaio, fez cair por terra a polarização que parecia determinar o pleito. Isso mostra que o discurso de uma terceira via, que não está dentro das tradicionais oposição e situação, alcançou uma parcela importante do eleitorado, e deve ser levado em conta.

Entretanto, o momento atual é de opção por uma das duas propostas em disputa, e cabe às eleitoras e aos eleitores escolher aquela que está mais próxima de sua visão de mundo, de modelo de país e postura ética. A ABONG acredita que, durante este período de duros embates que devem caracterizar o segundo turno, precisamos estar atentos e defender de forma intransigente os princípios e bandeiras de luta que fundam e unificam nossa Associação.

Dessa forma, apoiaremos propostas que demonstrem compromisso com a justiça social e com a promoção da igualdade, com a ampliação e fortalecimento da democracia participativa, incluindo a necessidade de uma reforma política ampla, pautada por preceitos éticos, e com a defesa dos direitos humanos a partir dos pontos expressos no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, o PNDH 3.

Ao mesmo tempo, repudiamos a desqualificação de qualquer candidata ou candidato a partir da disseminação de mentiras e informações distorcidas, assim como a deslegitimação de candidaturas com base em críticas à opiniões pessoais sobre temas considerados polêmicos, como a legalização do aborto, a pena de morte ou o direito à propriedade. Entendemos que todas as cidadãs e todos os cidadãos têm direito de expressar suas convicções pessoais, ressaltando que a tentativa de fazer crer que um presidente ou uma presidenta possam impor suas crenças pessoais a um país não passa de manipulação da opinião pública.

Um dos papéis de uma organização como a ABONG é justamente fazer o trabalho de contra-informação, contribuindo para a educação política da sociedade ao desmentir e explicar que decisões como essas são tomadas pelo Legislativo e se tornarão lei na medida em que correspondam à vontade popular, como acontece em uma democracia.

Esperamos assim contribuir para que o período reservado ao segundo turno das eleições presidenciais possa realmente ser caracterizado por um momento de debates e disputa política de projetos, sem rebaixamentos de qualquer espécie. Somente assim conseguiremos aproveitar mais essa oportunidade para elevar o nível de consciência política de nossa sociedade e construir o real fortalecimento de nossa democracia.


Fonte: www.abong.org.br

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Para as crianças que trabalham: parabéns pelo seu dia!

Por: Leonardo Sakamoto

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Hoje é Dia das Crianças. Data comercial, menos importante economicamente que o Natal, o Dia das Mães e o Dia dos Namorados (nessa ordem) mas, ainda assim, com um significado para muita gente – e, portanto, a ser respeitada. Mas enquanto alguns desembrulham seus carrinhos e bonecas (ou videogames, celulares e iPods), outros vão passar a terça-feira trabalhando. No máximo, darão uma paradinha para ir à missa, devido a hoje também ser o Dia da Padroeira do Brasil. Por isso, vou retomar algo que já apareceu por aqui, mas que cabe como uma luva para a data.

Milhares de crianças e jovens no Brasil abandonam a escola e trabalham desde cedo para ajudar as finanças em casa ou mesmo se sustentar. Perdem dedos nas máquinas de apurar fibras de sisal, queimam braços e pernas nos fornos de carvoarias, catam latinhas de alumínio nos lixões das grandes cidades, fazem malabarismos em semáforos. Em casos extremos, são obrigados a trabalhar só por comida e impedidos de sair enquanto não terminarem o serviço.

As Nações Unidas estipularam a meta de acabar em 2016 com as piores formas de exploração infantil. Particularmente, acho que não vai dar. Nem lá fora, nem aqui. Apesar dos avanços aqui e em vários cantos do mundo, não temos agido com a velocidade necessária para combater a miséria e a pobreza (que empurram crianças para o trabalho degradante), a impunidade (que garante a certeza de liberdade para quem rouba a infância) e a ganância (a facilidade de ganho fácil de quem explora esse tipo de mão-de-obra barata em suas cadeias produtivas). Cansei de ouvir e presenciar histórias assim nos últimos anos. Reuni algumas delas:

- A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Pará encontrou 30 crianças escravizadas, entre um grupo de adultos, no município de Placas (PA), em área de difícil acesso, às margens da Rodovia Transamazônica. Fazenda de cacau. Uma das crianças ficou cega após acidente de trabalho. Ela estava carregando o cacau, quando tropeçou em um tronco e caiu com o olho esquerdo em um toco de madeira. A maioria das crianças estava doente, algumas com leishmaniose e outras com úlcera de Bauru.

- Um outro grupo de 30 crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos, trabalhava na colheita de limão em condições precárias e com atraso de salário em Cabreúva, a cerca de 70 km da capital de São Paulo. A sorte deles só mudou graças a um adolescente resolver sair e denunciar à Polícia Militar que não estava recebendo remuneração pelo serviço. Passavam fome e frio.

- Em um posto de combustível, ao deixar o Maranhão e entrar no Tocantins, meninas, baixinhas, franzinas, usavam a voz de criança para oferecer programas. Entravam em boléias de caminhão e, por menos de R$ 30,00, deixavam sua inocência do lado de fora.

- No Pará, em Eldorado dos Carajás, ouvi um garimpeiro reclamar que o bordel que frequentava só tinha “puta com idade de vaca velha”. Ou seja, 12 anos. Para levar, de R$ 20,00 a R$ 40,00.

- Uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego encontrou mais de 25 crianças e adolescentes em matadouros públicos nos municípios de Nova Cruz, João Câmara e São Paulo do Potengi, no Rio Grande do Norte. Muitos trabalhavam com os pais no descarnamento de bois e curtimento de couro sem nenhum equipamento de proteção, pisando descalços sobre o sangue derramado, com uma faca na cintura. Uma menina, de 15 anos, que retirava esterco das tripas disse que recebia em produtos para levar para casa. “Em alguns casos, o pagamento é em comida que você dá normalmente para o cachorro”, afirmou a coordenadora da ação de fiscalização.

- Dentre trabalhadores libertados da escravidão em uma fazenda de gado no Pará, um rapazinho de 14 anos, analfabeto, me contou que morava em uma favela na cidade com a família adotiva e ia ao campo para ganhar dinheiro. Foi dado de presente pela mãe aos três anos de idade e trabalhava desde os 12 para poder comprar suas roupas, calçados, fortificantes e remédios – afinal de contas, já havia pegado uma dengue e cinco malárias. Com o que ganhava no serviço, também comprava sorvetes e lanches para ele e seus amigos. E só. Segundo Jonas, a adolescência não é tão divertida assim. “Brincadeira lá é muito pouca”, explicou ele.

- Pedro perdeu a conta das vezes que passou frio, ensopado pelas trovoadas amazônicas, debaixo da tenda de lona amarela que servia como casa durante os dias de semana. Nem bem amanhecia, ele engolia café preto engrossado com farinha de mandioca, abraçava a motosserra e começava a transformar a floresta amazônica em cerca para o gado do patrão. Analfabeto, permaneceu apenas dez dias em uma sala de aula por causa da ação de pistoleiros no povoado onde ficava a escola. Depois, nunca mais. Passou fome, experimentou dengue e por dois anos não recebeu um centavo pelo serviço, só comida. “Trabalhar com serra é o jeito. Senão, a gente morre de fome.” Não sabia a data do seu aniversário e nem o que se comemorava no dia 1º de maio, dia em que foi encontrado pela equipe do Ministério do Trabalho e Emprego durante fiscalização na fazenda. Tinha 13 anos.

O pior de tudo? Criança trabalhando é algo normal para tanta, mas tanta gente, que se torna um serviço ingrato convencê-los de que o lugar delas é estudando e brincando. Se toda uma nação fosse contra isso, teríamos uma mudança real e seria mais fácil atacar essas formas deploráveis de exploração de nossas crianças. Mas não, pois, para muito, trabalhar desde cedo forja o caráter. Liberta… Ah, onde eu vi isso?… Sim, em um portão de um antigo campo de concentração. Enquanto aguardamos o Brasil descobrir que o caminho não precisa ser esse, vamos conquistando vitórias apenas a conta-gotas.

Enfim, como eu disse, Feliz Dia das Crianças!


Fonte: www.blogdosakamoto.uol.com.br

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

As eleições 2010 em Conceição do Coité (BA), no último domingo (03 de outubro), revelam a força do PT, a decadência do DEM e do PMDB. Confira a análise que faço dividida em 5 partes.

Por Paulo Marcos*


1 - O Silva e a Silva: A primeira análise que faço é sobre a votação de Marina Silva. O povo mostrou a Lula que quer outro Silva na presidência. Embora não seja o projeto de Marina que fale mais alto ou mesmo o desejo por um Silva. O Lula da Silva é o melhor presidente do Brasil e seu projeto é muito maior que a história de qualquer candidato, inclusive a sua própria. Os votos de Marina, neste segundo turno, devem se dividir em três: brancos e nulos; uma pequena parcela para Serra, principalmente do bloco de centro-direita que estava com Marina; e por fim a maioria de votos de simpatizantes e ex-petistas que acompanharam Marina Silva na nova investida.


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Lula e Marina - foto: 4.bp.blogspot.com

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2 - Escolha de candidato: O desempenho de Paulo Souto foi vergonhoso. Perdeu para Tiririca, César Borges e José Ronaldo. O DEM poderia ter escolhido melhor o candidato a governo assim como o PT de Coité deveria ter escolhido melhor o candidato a deputado estadual, que apesar de melhorar o desempenho em Coité não cresceu fora.

3 - TOM e o DEM: Um partido dividido e em decadência é o que o resultado das eleições falam sobre o Democratas em todo o Brasil. Perdeu cadeiras no Senado, na Câmara, nos Governos Estaduais e nas Assembleias. Na Bahia, a salvação da lavoura foi o ex-prefeito de Coité, que desde 2000 não disputava eleições. TOM foi eleito prefeito, governou com dificuldades, envolveu-se em processo de cassação e chegou a ser afastado, registrou candidatura a reeleição, em 2004, e desistiu temendo a derrota. Teve um governo ruim e ficou na geladeira por seis anos. Agora tornou-se o mais votado do DEM para deputado estadual. De fato significa a renovação do partido, que tanto foi dita por Paulo Souto no último domingo até porque caciques políticos do velho PFL como Emério, Izac Pinheiro Jr, e tantos outros se renderam e estão com Wagner. TOM deverá ser a liderança de oposição ao governo mais forte do Estado assim como foi nas urnas.

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4 - O PT de Coité tá acima da média: O Partido dos Trabalhadores de Conceição do Coité, liderado por Assis do PT, tornou-se o principal partido político do município após o resultado das urnas de domingo, enquanto isso o PMDB desce a ladeira. Mais de 42% dos votos para deputado estadual e mais de 37% para deputado federal foram para o partido, que com esses números o grupo está acima da média estadual, que ficou em torno de 20%. Se comparar a votação de Wagner e de Dilma em relação a 2006 (Wagner e Lula), o atual prefeito Renato Souza do PP, que diz ter apoiado o PT, não conseguiu transferir mais que mil votos. Além disso, dentre as lideranças do Partido, apenas Assis e Arivaldo apoiaram a candidatura do professor e escritor Emiliano José, o campeão de votos na cidade.


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Campanha de Emiliano José com participação de Waldir Pires em Coité
Foto Arquivo PT


5 - Que venha 2012: O PT, que obteve 42% dos votos para prefeito e manteve agora para deputado, que aumentou a bancada de vereadores para três, em 2008, e agora se fortaleceu com mais deputados, senadores e a reeleição de Wagner, precisa trabalhar firme para eleger Dilma e fazer um bom plano de campanha rumo a prefeitura, em 2012, quem sabe conte com o apoio do atual prefeito de Coité que deverá votar no PT pela terceira vez no dia 31 de outubro e deva acabar se acostumando com onda 13.


Por fim, como Comunicólogo, outra análise que faço dessas eleições, é que o Rádio não tem mais a importância de antes na cobertura da apuração. A Internet superou e muito pela velocidade e outros atrativos que dispõe. Não há mais a emoção do voto a voto e insistir nisso é falar de passado, quando todo mundo já sabe o futuro.


Saiba mais sobre as eleições

* Paulo Marcos é Comunicólogo (UNEB), especialista em rádio, TV e comunicação digital junto a jovens e lideranças do movimento social. Atua no Terceiro Setor e é repórter e correspondente da TVE-BA, jornais e emissoras de rádio comunitária e e comercial da Bahia.

Foto Paulo Souto - www.abahianews.com.br