segunda-feira, 19 de julho de 2010
Justa medida, mas nem tanto assim
A filosofia e o direito muito discorreram sobre a chamada justa medida. Se você clicar no google ou buscar ao seu redor verá a profusão que o tema suscita em todo o mundo, em várias culturas e em todos os tempos da história. Mas, longe da ética e da justiça, ou mesmo das ciências e das formas clássicas e convencionais de conhecimento, também o chamado senso comum se debate nessa busca. Entre 8 e 80 muita gente quer encontrar o equilíbrio, o justo, a medida de consenso, a conciliação, etc. Mas será que isso é mesmo possível ? Desenvolvimento econômico e meio ambiente, plural e singular, global e local são apenas algumas claras formas de exemplificar a questão. Todos/as, em algum momento de suas vidas, se deparam com essa tensão. Mas também é verdade que nem todos/as tentam "promover" a chamada justa medida. Ou por não julgarem possível ou mesmo porque simplesmente não a desejam. A sabedoria popular nos ensina (ou demonstra no cotidiano) que não se pode "fazer omelete sem quebrar ovos", "quem muito aperta pouco abraça", "pior seria se pior fosse", "dos males o menor", etc. O que quero dizer, porém, é que, talvez, por trás dessa discussão esteja ou a elisão do diálogo (pela negação da possibilidade de uma medida justa) ou a busca de um equilíbrio estático, perfeito, consensual (que em tese agradaria às partes). Ambos os "tipos ideais", aqui grosseiramente alinhavados, talvez ainda escondam outras reflexões, as quais julgo pertinentes, a saber, a noção de democracia, de justiça e de consenso como promotores e princípios da paz ou da solução de conflitos. Primeiro, não seria o equilíbrio algo socialmente construído a partir do possível em dadas circunstâncias ? O dito equilíbrio não poderia ser tomado como algo tenso e dinâmico ? Segundo, a mediação de conflitos pode ser vista também como efeito pedagógico ? Ou apenas (em grande parte ao menos) como forma de melhorar a produção (no campo da gestão) e desobstruir a justiça (campo do direito) ? A meu ver está em xeque, ainda, a dimensão da negociação e em especial o quanto cada parte se dispõe (e porquê) a abrir mão daquilo que acreditava ou que acreditava crer. Não quero advogar a tese do "mal necessário" ou "melhor algo do que nada" ! Quero, sim, erigir uma reflexão sobre questões de ponta, por exemplo: uma ética intercultural entre os povos que escape á sublimação do local, à falácia do fim da história, à dita globalização ou ainda á de um super Estado transnacional/transcultural. Encontrar, ou buscar, ou melhor ainda, acreditar em uma justa medida é começar a escapar de uma antropologia hiperrelativista e atomista, por um lado, e de uma "gestão de mundo" universalizante, alienista e economicista, por outro. Ao contrário, recuperar o sentido da política como instrumento de paz e de promoção do mundo como oikos de todos/as deve ser um norte. E basear a ação teórica e sobretudo prática, real e concreta em princípios ecológicos e de direitos humanos deva ser a motivação das políticas públicas a serem promovidas, asseguradas e difundidas pelos/as gestores/as, bem como pelas pessoas em seu dia a dia. São algumas medidas que me parecem justas.
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