terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eleições, Mulher, Jornalismo e Ideologia

O que uma mulher precisa para ser presidente do Brasil?

O que exatamente esperamos de uma mulher candidata à Presidência? Que ela tenha conteúdo, mas também seja bonita e se vista de maneira atraente, como a argentina Cristina Kirchner? Ou que tenha um ar mais austero e rígido, como a alemã Angela Merkel? E talvez se ela for religiosa e demonstrar que essa é uma de suas principais referências, como a atual Marina Silva e a então Heloísa Helena, terceiro lugar no pleito de 2006, estaríamos de acordo?

Essas dúvidas surgiram quando assisti, ontem à noite, ao Jornal Nacional, que entrevistou a candidata petista Dilma Rousseff. Afinal, quais exigências fazemos para aceitar que uma mulher dispute esse cargo com chances reais de vitória?

Bem, se depender dos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes, ao que parece temos apenas dois fatores cruciais: saber qual é a referência masculina da candidata e se ela vai adotar uma postura durona. Afinal, foi em torno disso que girou a conversa.

Logo no início, Bonner quis sabe se o eleitor poderia enxergar o presidente Lula como um tutor de Dilma. Sim, talvez ele pensasse que ela, Dilma, precisasse de um. Mas talvez – e pior ainda – a pergunta decorra de uma imagem que insiste em se atrelar à da mulher na política: a da necessidade de um “guia”, um “cérebro”. Ainda mais para concorrer à Presidência! Vide, novamente, Cristina Kirchner.

Para a minha surpresa, nesse ponto a candidata até que se saiu bem da saia justa: evitou o caminho fácil de dizer que era pupila de Lula e reforçou o quanto o admirava e tinha-o como exemplo. Mas no segundo quesito, tanto a pergunta quanto a resposta foram qualquer coisa de decepcionante. Fátima Bernardes partiu do pressuposto de que Dilma tinha um temperamento “duro e difícil” e questionou-a se ela manteria este perfil durante um possível governo. Dilma disse que essa era uma visão construída a respeito dela, que ela era apenas “firme”. Fátima insistiu:

“– O próprio presidente Lula, este ano em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora os maltratava.”

Pressionada, Dilma afirmou o que eu não queria ouvir: “– Olha, Fátima, é o seguinte, no papel, sabe dona de casa? No papel de cuidar do governo é meio como se a gente fosse mãe, tem uma hora que você tem de cobrar resultados”.

À acusação de que era rígida demais, Dilma respondeu que era como uma mãe educando. No lugar de assumir seu papel de candidata, colocou-se como uma mulher no seio da família, que faria o que precisasse para manter a prole em ordem. Uma fuga da postura teoricamente masculina – e que portanto não se encaixaria numa mulher – para a feminina, quiçá na tentativa de enternecer os telespectadores e a dupla que a metralhava.

Mal posso esperar para ver o que perguntarão aos outros candidatos. No mínimo será uma experiência antropológica para discernirmos se o que ocorreu ontem foi jornalismo, ideologia ou preconceito contra mulher. Ou tudo junto, com um pouco menos de carga no primeiro item.


Escrito por Maíra Kubík Mano às 00h55

2 comentários:

  1. Ideologia, preconceito ou jornalismo... Acho q só a antropologia não dá conta do q vimos ontem no JN. Como tbm não dá conta do q temos presenciado nas Eleições 2010 e no Brasil de uns tempos p cá. Politica sem partido, família sem responsáveis, mercado sem sociedade e sociedade de mercado, etc... Bonner perguntou: (sobre a "aliança" do PT c Jader, Caieiros, Sarney) "errou o PT naquela época ou erra agora" ? Essa é a pergunta q devemos nos fazer: onde estamos errando ? Ou será q está td certo e q são apenas uns chatos q n veem as (boas)mudanças ?

    ResponderExcluir
  2. Eles querem dizer que Dilma será mandada por Lula, no quesito política isso é bom porque o povo brasileiro não quer que Lula saia. Mas também dizem que Dilma não é Lula então o povo não deveria votar na Dilma.

    A grande questão pra mim não está na mulher, no ser mandada ou no preconceito.

    O centro da questão é evitar o terceiro mandato do PT, do projeto de Lula - o melhor presidente que o Brasil já teve.

    ResponderExcluir