O que exatamente esperamos de uma mulher candidata à Presidência? Que ela tenha conteúdo, mas também seja bonita e se vista de maneira atraente, como a argentina Cristina Kirchner? Ou que tenha um ar mais austero e rígido, como a alemã Angela Merkel? E talvez se ela for religiosa e demonstrar que essa é uma de suas principais referências, como a atual Marina Silva e a então Heloísa Helena, terceiro lugar no pleito de 2006, estaríamos de acordo?
Essas dúvidas surgiram quando assisti, ontem à noite, ao Jornal Nacional, que entrevistou a candidata petista Dilma Rousseff. Afinal, quais exigências fazemos para aceitar que uma mulher dispute esse cargo com chances reais de vitória?
Bem, se depender dos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes, ao que parece temos apenas dois fatores cruciais: saber qual é a referência masculina da candidata e se ela vai adotar uma postura durona. Afinal, foi em torno disso que girou a conversa.
Logo no início, Bonner quis sabe se o eleitor poderia enxergar o presidente Lula como um tutor de Dilma. Sim, talvez ele pensasse que ela, Dilma, precisasse de um. Mas talvez – e pior ainda – a pergunta decorra de uma imagem que insiste em se atrelar à da mulher na política: a da necessidade de um “guia”, um “cérebro”. Ainda mais para concorrer à Presidência! Vide, novamente, Cristina Kirchner.
Para a minha surpresa, nesse ponto a candidata até que se saiu bem da saia justa: evitou o caminho fácil de dizer que era pupila de Lula e reforçou o quanto o admirava e tinha-o como exemplo. Mas no segundo quesito, tanto a pergunta quanto a resposta foram qualquer coisa de decepcionante. Fátima Bernardes partiu do pressuposto de que Dilma tinha um temperamento “duro e difícil” e questionou-a se ela manteria este perfil durante um possível governo. Dilma disse que essa era uma visão construída a respeito dela, que ela era apenas “firme”. Fátima insistiu:
“– O próprio presidente Lula, este ano em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora os maltratava.”
Pressionada, Dilma afirmou o que eu não queria ouvir: “– Olha, Fátima, é o seguinte, no papel, sabe dona de casa? No papel de cuidar do governo é meio como se a gente fosse mãe, tem uma hora que você tem de cobrar resultados”.
À acusação de que era rígida demais, Dilma respondeu que era como uma mãe educando. No lugar de assumir seu papel de candidata, colocou-se como uma mulher no seio da família, que faria o que precisasse para manter a prole em ordem. Uma fuga da postura teoricamente masculina – e que portanto não se encaixaria numa mulher – para a feminina, quiçá na tentativa de enternecer os telespectadores e a dupla que a metralhava.
Mal posso esperar para ver o que perguntarão aos outros candidatos. No mínimo será uma experiência antropológica para discernirmos se o que ocorreu ontem foi jornalismo, ideologia ou preconceito contra mulher. Ou tudo junto, com um pouco menos de carga no primeiro item.
Escrito por Maíra Kubík Mano às 00h55
Ideologia, preconceito ou jornalismo... Acho q só a antropologia não dá conta do q vimos ontem no JN. Como tbm não dá conta do q temos presenciado nas Eleições 2010 e no Brasil de uns tempos p cá. Politica sem partido, família sem responsáveis, mercado sem sociedade e sociedade de mercado, etc... Bonner perguntou: (sobre a "aliança" do PT c Jader, Caieiros, Sarney) "errou o PT naquela época ou erra agora" ? Essa é a pergunta q devemos nos fazer: onde estamos errando ? Ou será q está td certo e q são apenas uns chatos q n veem as (boas)mudanças ?
ResponderExcluirEles querem dizer que Dilma será mandada por Lula, no quesito política isso é bom porque o povo brasileiro não quer que Lula saia. Mas também dizem que Dilma não é Lula então o povo não deveria votar na Dilma.
ResponderExcluirA grande questão pra mim não está na mulher, no ser mandada ou no preconceito.
O centro da questão é evitar o terceiro mandato do PT, do projeto de Lula - o melhor presidente que o Brasil já teve.